Em 25 de dezembro 1977, perdiamos bem mais que um artista, perdiamos um ícone da cinematografia mundial. Alguém que marcaria a história do cinema durante todos os séculos seguintes. O mundo dava adeus à Charles Chaplin.
Conhecido por sua versatilidade, já que em Luzes da Ribalta além de ter atuado, foi diretor, produtor, financiador, roteirista, músico, cinematógrafo e regente de orquestra, Chaplin mesmo com a saúde debilitada conseguiu compor a trilha sonora para o filme A Woman of Paris (1923), concluída em 1976.
Não vou negar que a parte musical dele sempre me atraiu, mas sua atuação e genialidade na sétima arte são coisas que não posso deixar de admirar.
Chaplin é o que podemos chamar de artista completo. Era o faz tudo. Aquele que poderia fazer um filme sozinho e que você saberia que iria sair algo extremamente criativo e original. Ele se tornou um mito.
E para saudar este mito reescrevo abaixo um poema de Carlos Drummond de Andrade, poeta , contista e cronista brasileiro.
A CARLITO
Carlos Drummond de Andrade
Velho Chaplin:
as crianças do mundo te saúdam.
Não adiantou te esconderes na casa de areia dos setenta anos
refletida no lago suíço.
Nem trocares tua roupa e sapatos heróicos
pela comum indumentária mundial.
Um guri te descobre e diz: Carlito
CARLITO - ressoa o coro em primavera.
Homens apressados estacam. E readquirem-se.
Estavas enrolado neles como bola de gude de quinze cores,
concentração do lúdico infinito.
Pulas intato da algibeira.
Uma guerra e outra guerra não bastaram
para secar em nós a eterna linfa
em que, peixe, modulas teu bailado.
O filme de 16 milímetros entra em casa
por um dia alugado
e com ele a graça de existir
mesmo entre os equívocos, o medo, a solitude mais solita.
Agora é confidencial o teu ensino,
pessoa por pessoa,
ternura por ternura,
e desligado de ti e da rede internacional de cinemas,
o mito cresce.
O mito cresce, Chaplin, a nossos olhos
feridos do pesadelo cotidiano.
O mundo vai acabar pela mão dos homens?
A vida renega a vida?
Não restará ninguém para pregar
o último rabo de papel na túnica do rei?
Ninguém para recordar
que houve pelas estradas um errante poeta desengonçado,
a todos resumindo em seu despojamento?
Perguntas suspensas no céu cortado
de pressentimentos e foguetes
cedem à maior pergunta
que o homem dirige às estrelas.
Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo
e as crianças do mundo te saúdam.
Carlos Drummond de Andrade
Velho Chaplin:
as crianças do mundo te saúdam.
Não adiantou te esconderes na casa de areia dos setenta anos
refletida no lago suíço.
Nem trocares tua roupa e sapatos heróicos
pela comum indumentária mundial.
Um guri te descobre e diz: Carlito
CARLITO - ressoa o coro em primavera.
Homens apressados estacam. E readquirem-se.
Estavas enrolado neles como bola de gude de quinze cores,
concentração do lúdico infinito.
Pulas intato da algibeira.
Uma guerra e outra guerra não bastaram
para secar em nós a eterna linfa
em que, peixe, modulas teu bailado.
O filme de 16 milímetros entra em casa
por um dia alugado
e com ele a graça de existir
mesmo entre os equívocos, o medo, a solitude mais solita.
Agora é confidencial o teu ensino,
pessoa por pessoa,
ternura por ternura,
e desligado de ti e da rede internacional de cinemas,
o mito cresce.
O mito cresce, Chaplin, a nossos olhos
feridos do pesadelo cotidiano.
O mundo vai acabar pela mão dos homens?
A vida renega a vida?
Não restará ninguém para pregar
o último rabo de papel na túnica do rei?
Ninguém para recordar
que houve pelas estradas um errante poeta desengonçado,
a todos resumindo em seu despojamento?
Perguntas suspensas no céu cortado
de pressentimentos e foguetes
cedem à maior pergunta
que o homem dirige às estrelas.
Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo
e as crianças do mundo te saúdam.
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