"Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera. "
Era uma tarde de outono e as arvores saudavam as ruas de uma pequena e movimentada cidade do interior com o que tinham.
Folhas, flores e botões transformava a passagem acinzentada em um tapete colorido. E na frente das casas, o rosa das flores dos Ipês contrastava com o alaranjado das folhas que começavam a secar em uma mistura feita pelo vento que soprava naquela época.
Um vento leve, uma brisa vinda do norte que parecia avisar que cada pedaço daquele lugar coberto de cimento e pedra não tardava renovar. Que a primavera seria a estação de quem estava disposto a ver no oposto alguma semelhança. Que os conflitos cessariam em cada canto e que tudo ali pararia para observar nos jardins de cada lugar o nascimento das novas flores, o cantarolar dos pássaros e o balé que as borboletas traziam de graça e com graça a quem quisesse e pudesse ver.
Coisas pequenas e despercebidas em meio a tanta movimentação dos seus moradores. Mas capazes de trazer um espetáculo gratuito que depois tantos artistas dali tentariam reproduzir através das músicas, pinturas, danças, esculturas e filmes que seriam vendidos a preço de papel e pão.
E no fim da tarde, o pôr do sol saudaria cobrindo o céu de dourado e a plateia que estivesse nos portos e praias da região anunciando a noite e os mistérios que só ela traria.
Afinal, os mais antigos do lugar acreditavam até com alguma sabedoria, que nesses pequenos momentos o Deus em que depositavam sua fé, dava a eles uma amostra de sua existência.