31 de outubro de 2011

Carlos Drummond de Andrade: 109 anos de um modernista brasileiro

Em tempos onde não se diz mais meu amor, Carlos Drummond de Andrade seria considerado um careta apaixonado. Apesar de o proprio Drummond não dar muita vazão para as datas, demostrado muito bem no poema O tempo passa? Não passa -  “São mitos do calendário tanto o ontem como o agora, e o teu aniversário é um nascer toda a hora…”, hoje, quando o autor completaria 109 anos, foi instituido o dia 'D' em sua homenagem, com direito até a site < http://diadrummond.ims.uol.com.br/ > lançado no inicio do mês.
Mas, meu poema predileto de Drummond se chama Anoitecer.  Publicado no livro a Rosa do Povo, este poema foi o ponta pé inicial  para minha curiosidade e gosto pela vida e obra deste poeta modernista mineiro.

Anoitecer
(Carlos Drummond de Andrade)

É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo

É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo

~♠~

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